Minha
mãe, sempre sábia, todas as manhãs, sentando-se junto a nós - eu e mais cinco irmãos - servia o café,
acompanhado de pão, manteiga e leite – As vezes tinha bolo. A mesa e as
cadeiras eram móveis antigos que ela cuidava com todo o carinho por se tratar
de um presente de uma tia nossa. Eu, já
me levantando apressada para ir à escola, recebia seu beijo além do seu
olhar doce, que também queria perguntar se eu não estaria esquecendo algo, se
estava levando o casaco de frio – estivesse frio ou não. Antes de sair eu perguntava
o que seria no almoço, imaginando os sabores da comida deliciosa que ela
preparava, apesar da simplicidade. Ela fazia uma expressão feliz, silenciava e
como se tivesse um olhar de Raio-X, parecia percorrer os armários por dentro,
onde guardava os alimentos – me recordo de não possuirmos geladeira - Vou ver o
que temos para hoje! Ela sempre dava um jeito de nos surpreender. O que tivéssemos para o dia de hoje, seria o
suficiente, nos bastaria. A consciência de que tudo seria providenciado, sem
lamentos, cobranças, stress. ( aliás nem tínhamos conhecimento do que essa
palavra poderia significar) era a certeza de que tudo transcoreria em paz,
houvesse o que houvesse, que mudasse a rotina, que nos deixasse alegres ou
tristes, havia uma paz, tudo se resolvia a contento sem que perdêssemos a
serenidade.
-“ O que teríamos para hoje”, era um dia
longo, onde aproveitaríamos ao máximo, o sol, as árvores no quintal, a
natureza, o encontro com os ninhos de passarinhos, as poças d´água que a chuva
fazia, as brincadeiras com a bola, as tarefas da escola, a chegada do nosso
pai, que sempre trazia pastéis a noite. A preocupação com o futuro chegou sim,
mas sem medo, carregada de sonhos que pareciam tão distantes... tanto que não
chegava a ser realmente uma preocupação.
Crianças é o que éramos, e felizes.
Sinto nas crianças de hoje, uma preocupação
extrema com o possuir. A felicidade está focada apenas em tudo o que o dinheiro
possa comprar. Se isso as fazem felizes, tudo bem, o mundo mudou eu sei, mas há
um prejuízo, o de se tornarem escravizadas por toda uma vida.
Ah, que vontade de comer abóbora com carne
seca!!!
Lourdinha Vilela.